Estrela D'Alva
6 de abril de 2020, quase 30 dias sem o mundo físico externo.
Os algoritmos faziam companhia e ditavam os acompanhantes
da jornada do enclausuramento.
Busquei o que buscavam no mundo virtual: alimentar o corpo
de pão e oração para sobreviver ao deserto espaço público.
Desertores exilados em rito litúrgico.
O gesto une água, sal, trigo e molda corpo, levado ao fogo.
154 dias após, enquanto muitas almas se desprendiam de corpos terrenos, a vida era encontrada na antiga Terra, Vênus.
Nosso futuro faria de nós apenas indícios de vida.
Um dia fomos venusianos, um dia novamente seremos.
Numa dissincronia Vênus e Terra são o mesmo.
31 de outubro, noite de lua cheia em Touro, dia das bruxas que queimaram nas infernais temperaturas venusianas. Suas cinzas sopradas ao desconhecido e inabitado. As mesmas cinzas que restaram do cozer do corpo e do pão debaixo da pedra quente.
Da água da chuva que esfria o calor, nesta noite, germinou o trigo.
7 dias depois, o nascimento de Vênus.